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Discussão

Mudanças sensoriais, diminuição da acuidade visual e comprometimento da propriocepção e do sistema vestibular reduzem os estímulos ambientais e deixam os indivíduos mais suscetíveis à queda, exigindo uma abordagem multifacetada para reduzir o risco de tais quedas. Ações integradas e cuidados especializados são utilizados para monitorar a população de maior risco e estimulá-la a tomar medidas preventivas para minimizar o risco de quedas futuras1112,

Dos 257 indivíduos com tonturas, 76,3% eram mulheres. Essa distribuição de gênero concorda com estudos que demonstraram que as mulheres são suscetíveis a tonturas, possivelmente devido a alterações hormonais, e também com o fato de que as mulheres procuram mais frequentemente os serviços de saúde1314,

O presente estudo examinou apenas pessoas acima de 60 anos de idade e encontrou uma prevalência de tonturas de 52,1%. A tontura tem sido considerada uma síndrome geriátrica, uma condição de saúde multifatorial resultante dos efeitos cumulativos dos déficits em múltiplos sistemas que tornam os idosos mais vulneráveis aos desafios situacionais. O envelhecimento causa perda de equilíbrio e alterações na massa muscular e óssea15,

Quedas e suas consequências para os idosos têm assumido dimensões epidêmicas no Brasil. Os custos para o idoso que cai e sofre uma fratura são incalculáveis; pior ainda, toda a família é afetada quando o idoso com uma fratura requer hospitalização e/ou tratamento cirúrgico. Os custos para o sistema de saúde também são elevados4,

Em resumo, a tontura pode causar mudanças físicas, funcionais e emocionais em pessoas idosas e pode resultar em outros problemas de saúde, como quedas e fraturas. Portanto, tanto a prevenção quanto o tratamento são sugeridos para melhorar a qualidade de vida desses indivíduos.

O tratamento farmacológico para tontura deve ser usado com cautela e apenas por um curto período de tempo devido à sua interferência na compensação natural do sistema nervoso central (SNC). Quando tal tratamento é apropriado, como nos casos de vertigem com duração superior a alguns dias, deve ser retirado gradualmente ao longo de alguns dias16. É importante lembrar que os idosos têm mais frequentemente comorbidades e, portanto, usam múltiplos medicamentos, cujas interações podem causar efeitos indesejáveis, como tonturas. Portanto, uma história detalhada incluindo todos os medicamentos utilizados é uma parte importante do trabalho diagnóstico de pacientes idosos com tonturas.

Hipertensão nos idosos requer o uso constante de medicamentos e também pode causar tonturas. Um estudo de intervenção terapêutica em pacientes com hipertensão arterial realizado em 49 indivíduos pelo Centro de Referência de Assistência Social de Fortaleza constatou que, embora mais de 50% dos participantes empregassem apenas modalidades de tratamento não-farmacológico, como dieta e exercícios, 49% relataram reações adversas Destas, as mais citadas foram a polúria e a tontura (29% cada)17,

A tontura pode, às vezes, ser um sintoma de crise hipertensiva. Segundo Feitosa-Filho18, a crise hipertensiva é uma condição clínica caracterizada por um aumento súbito da pressão arterial (para ≥180/120 mmHg) acompanhada de sintomas que podem ser leves (dor de cabeça, tonturas e zumbido) ou graves (dispnéia, dor torácica, coma e até morte) com ou sem lesão aguda de um órgão-alvo. Portanto, a tontura pode ser o primeiro sinal de alerta para orientar o paciente ou o clínico a investigar a possibilidade de hipertensão arterial.

Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) foi relatada como afetando 36,7% da população idosa com distúrbios vestibulares periféricos e respondendo por 33% das queixas de tontura nos cuidados primários19. Sczepanek et al.20 confirmaram que a VPPB é a causa mais frequentemente subdiagnosticada de tonturas em idosos na atenção primária. Portanto, os prestadores de cuidados primários devem dar mais atenção às doenças vestibulares comuns.

A tontura pode afetar a QOL do idoso. O “Dizziness Handicap Inventory” (DHI) foi desenvolvido para medir os níveis de auto-percepção da deficiência física, funcional e emocional associada à tontura. Esses sintomas podem gerar frustração, medo de sair sozinho ou ficar sozinho em casa, preocupação com a auto-imagem, concentração perturbada, sensação de fracasso, mudanças nas relações familiares ou sociais e depressão2122.

A prevalência de hipertensão arterial em idosos é superior a 60% e está se tornando o fator determinante de morbidade e mortalidade nessa população, exigindo assim a correta identificação do problema e abordagens terapêuticas adequadas23.

Um estudo realizado com os dados do Projeto Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe (SABE) de 1769 idosos em São Paulo constatou que esta população era predominantemente feminina (58,8%) e que a hipertensão era a condição crônica mais comum (53,4%)24,

Na nossa pesquisa, 62,5% dos participantes relataram hipertensão; destes, 66,9% eram mulheres e 33,1% homens. Em um estudo transversal com uma amostra aleatória de 892 pessoas representando a população adulta da cidade de Campo Grande, MS, Souza et al.25 constataram que a prevalência de hipertensão arterial foi de 41,4% em geral, 51,8% em homens e 33,1% em mulheres. Dos 370 indivíduos com hipertensão arterial, apenas 69,18% estavam cientes de sua doença (p < 0,001). Deve-se ter em mente que a hipertensão arterial foi auto-relatada em nosso estudo, portanto é altamente provável que o número de indivíduos hipertensos tenha sido maior do que o relatado.

Um estudo dos 110.489 habitantes da cidade de Catanduva, em São Paulo, utilizando uma amostra aleatória de 688 adultos (>18 anos), 286 homens e 402 mulheres, encontrou uma prevalência de 31,5% de hipertensão arterial. A prevalência em homens foi de 33,9%, variando de 9% no grupo de 18-29 anos a 44% entre os de 70-99 anos26,

Alves et al.24 demonstraram em seu estudo que as doenças crônicas influenciam fortemente a capacidade funcional dos idosos. A presença de hipertensão aumentou em 39% a probabilidade de uma pessoa idosa ser dependente em atividades instrumentais da vida diária.

Hipertensão arterial sistêmica (HPB) é uma doença circulatória importante que pode afetar o sistema auditivo periférico e/ou central e vestibular. Muitos estudos em idosos têm abordado a associação entre hipertensão e tonturas e/ou vertigens. Um estudo comparando a freqüência de vertigens em pacientes idosos com e sem hipertensão arterial em 238 indivíduos encontrou que 23,8% dos pacientes hipertensos relataram vertigem, enquanto 16% dos não-hipertensivos relataram tontura, mas não houve associação significativa27,

O uso de apenas informações auto-relatadas sobre a presença de hipertensão arterial é uma limitação do nosso estudo. Segundo Zaitune et al.28, as informações de morbidade ajudam a identificar indivíduos que foram diagnosticados pelo menos uma vez na vida, mas omitem aqueles que não têm conhecimento de sua hipertensão arterial e podem, assim, subestimar a prevalência. Entretanto, outros estudos constataram que a prevalência de hipertensão auto-reportada durante uma entrevista provou ser uma estimativa válida da prevalência de hipertensão na população.

A hipertensão é uma das doenças mais comuns nos idosos e coloca enormes exigências ao sistema de saúde. A tontura é a causa mais frequente de quedas nos idosos, o que afeta a qualidade de vida desta população, além de impor custos exorbitantes decorrentes de fraturas. É importante dar mais atenção a estas condições e implementar medidas preventivas e desenvolver programas de promoção da saúde no âmbito da atenção primária.

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